São José, o santo “obscuro”

A obscuridade da vida de São José está em plena evidência na Escritura, de modo que não é preciso demonstrá-la. O esposo da Virgem Maria teve uma existência o mais possível ignorada na época em que viveu.

Perante a nossa sociedade, cada vez mais embriagada pelo desejo de aparecer e que se orgulha de publicar até mesmo os pormenores da vida cotidiana, o testemunho de São José se torna mais do que pertinente. Da vida deste grande santo pode-se reter a seguinte verdade: é possível ser uma grande pessoa e ao mesmo tempo ser absolutamente desconhecido do mundo.

São José possuía uma tripla dignidade: esposo da Virgem Maria, pai adotivo de Cristo e chefe da Sagrada Família. Esposo, Pai e Chefe. O véu que cobre tamanha glória é de tal espessura que pouca coisa de sua vida é explícita. Sua virtude, porém, é testemunhada explicitamente, por isso a Sagrada Escritura o chama de “Justo”. De fato, ele possuía em elevadíssimo grau todas as virtudes, pois Deus concede a sua graça em proporção à missão que cada um deve desempenhar. E a missão de São José era grandiosa.

São José viveu entre o pão do Antigo Testamento, o maná, e o pão do Novo Testamento, a hóstia. Mas não os aproveitou diretamente, porque sua missão constituía-se em providenciar o pão para a alimentação de Jesus. Nasceu para o trabalho e, sobretudo, para o silêncio.

Enquanto Cristo é revelado aos Apóstolos para que estes O anunciasse, Cristo é revelado a São José para que este O escondesse. Os apóstolos são a luz para fazer que o mundo veja Nosso Senhor, enquanto São José foi um véu que O cobriu. Sob este véu misterioso, escondem-se a virgindade de Maria e a divindade do Salvador das almas. Os apóstolos foram glorificados pela pregação, São José foi glorificado pelo silêncio.

Serviu a Deus sem vacilações e passou despercebido pelos olhares do mundo, assim foi São José. E a nossa vida, como a entendemos? Será que o nosso serviço a Deus não esconde em seu âmago algum desejo secreto de aparecimento e reconhecimento público? Não estamos nos entregando em excesso às futilidades das redes sociais? É preciso fazer essas perguntas.

A obscuridade da vida de São José foi tamanha que ele não acompanhou a morte espetacularizada de Jesus. Sua missão era proteger o Menino, e nisso ele foi invencível. Encerrada a missão, Deus o chamou. Também a sua forma de morrer só poderia ser silenciosa, não há nada sobre ela nas Escrituras. Ele teve a morte mais singular de toda a história, impossível de ser repetida, porque nesse momento supremo o acompanhou a ventura de ter a seu lado Jesus e Maria, e soltar nesses santos braços os seus últimos suspiros. São José nada disse nas Escrituras; nem precisou. Sua missão, sua graça e sua glória falam por si. Ele não foi profeta, nem patriarca, nem apóstolo, nem evangelista nem mártir, nem doutor, nem fundador de nada. Ele não quis ser conhecido, nem estimado, nem honrado, nem preferido e nem consultado. Ele apenas escondeu-se e silenciou-se.

São José, nos conceda o gosto do silêncio, o apreço pela modéstia e, principalmente, nos conceda em nossa hora derradeira uma morte santa.

Maurino dos Reis Pereira

Nasceu em 20 de dezembro de 1990. Formado em Filosofia no Seminário Maria Mater Ecclesiae do Brasil, também cursou 3 anos de Teologia e atualmente é estudante de Direito na Faculdade Anhanguera de Teixeira de Freitas.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

×
Salve Maria! Sejam bem vindos!
×